12/04/2014

Capítulo I

"Mais um dia para arruinar a auto-estima intelectual dos outros, ignorantes. Sim! Este dia vai ser para, mais uma vez, demonstrar como as pessoas no mundo são inúteis!" -Pensei eu, enquanto me levantava da cama e me preparava para realizar o último exame do colégio principesco de Edimburgo.

Após um banho de água cuidadosamente temperada, vesti o uniforme oficial do colégio e desci as escadas internas da mansão que iam dar ao salão. E pensar que um dia um nobre de alta categoria vivera ali, pisara nas mesmas escadas que eu estava a pisar, sentira o tacto do corrimão de pedra fria como eu estava neste momento a sentir, e pensar que esse mesmo grande homem da alta sociedade antiga era meu tetravô... Definitivamente eu possuo um bom sangue nas minhas veias, um sangue esplendidamente sábio, nobre e puro, um sangue superior dos demais...

Sentei-me na mesa da sala de jantar, esperando a minha refeição matinal. Mais uma vez aquela incompetente estava atrasada!

Dois minutos depois, a criada ruiva aparece. Lá vinha ela toda encolhida na sua farda preta e branca de empregada, de cabeça baixa de modo a evitar o tão temido contacto visual.

-Mas que incompetência! -Gritei eu. -Não sabe ser pontual? Francamente! Já é a segunda vez que se atrasa em quatro meses de trabalho! Não me faça arrepender de a ter aceite como empregada nesta mansão! Aqui cumprimos horários, entendeu?

-S-Sim senhor, peço desculpa...

A rapariguita,  com os seus 17 anos, tinha um jeito tímido de ser. Os seus cabelos de cenoura eram sempre presos em duas tranças, sendo que as únicas madeixas soltas eram as da sua franja. Era uma das coisas que eu detestava na Escócia, milhares de pessoas com uma cor de cabelo estúpida! Quer dizer, o que pretendem fazer no futuro? Fugir para um circo e tornarem-se palhaços com um cabelo perfeito destes? Por favor, a vida não é uma comédia!

Enquanto eu avaliava a vida futuro de pessoas como aquela empregada, ela servia-me o café e adoçava-o com dois cubinhos de açúcar. Levantou o pires com a chávena ao mesmo tempo que eu colocava um pano branco sobre o colo e o resultado foi... Desastroso!

-Despedida! Para o olho da rua! Vou falar com a minha mãe para a despachar o mais rápido possível!

A pobre rapariga não disse nada, ficou em estado de choque com a cabeça baixa...

-Está à espera de quê?! Vá imediatamente buscar-me uma camisa seca! Traga-me o outro casaco que faz parte do uniforme, mas primeiro traga-me outro café, e rápido!

A moça correu então para a cozinha, e com as lágrimas nos olhos preparou a máquina do café.

-Que aconteceu, filha? -Perguntou a sua mãe, que trabalhava na mansão há bastante tempo, como cozinheira.

-Mãe, perdi o emprego...

-Eu ouvi os gritos do menino... Mas tu sabes que a patroa não te vai por na rua, ela sabe que precisamos do dinheiro... Ai filha! O que te deu para lhe entornares o café?

-Foi sem querer mãe, desculpa...

-Devias pedir perdão ao menino, não a mim...

-A culpa nem foi dela! -Disse Hana intrometendo-se na conversa. -Eu estava a pendurar as cortinas novas na janela grande do salão e quando vinha aqui procurar uma tesoura vi a cena. O rapaz bateu com o cotovelo na chávena, e ainda por cima a Blaire também ficou com café na farda!

-Não me importo... -Respondeu ela.

-Queres que eu vá procurar a roupa dele?

-Não, não! -Insistiu a mãe de Blair. -Ela fez asneira, agora assume as consequências...

-Oh dona! Não ouviu o que eu disse? A culpa nem foi dela...

-Não insistas Hana. E não fales assim que se o menino te ouve ainda sobra para ti...

Sim, eu ouvira tudo... Pensei por momentos que talvez a culpa tivesse sido minha, mas... Que disparate! Era obrigação dela servir-me de maneira competente, ainda por cima é paga para isso! E aquela outra criada... Que besta mal agradecida!

Levantei-me e fui na direcção do escritório da minha mãe. Ela não podia permitir isto!

-Mãe...

-Bom dia filho. O menino acordou de bom humor?

-Mãe, já reparou no que tenho vestido? Estou imundo! Tudo por causa daquela criada filha da cozinheira! A mãe vai deixar isto assim? O que dirão os outros seus amigos e clientes quando perceberem que aqui apenas trabalham pessoas incompetentes?

-Que exagero! A Blair, é a filha de cozinheira mais competente que já conheci, filho... A pequena simplesmente é nova e este é o primeiro emprego dela... Além do mais é de confiança, imagine se nos aparecesse aqui uma empregada que enquanto dormia-mos, nos roubava... Foi o que aconteceu na mansão dos Roberts que a sorte foi o alarme anti-roubo na caixa de jóias da Victória!

-Tudo bem mãe, entendi... Deixe o assunto de lado... Também nem faço muita questão, visto que daqui a uns meses vou comprar uma outra mansão para começar uma vida de universitário...

-Não é de meu agrado que o menino fale assim... Está a dar a entender de que não é feliz junto de mim...

Fiquei calado a olhar para a mancha de café no meu casaco, e reparei que também tinha várias pequenas manchinhas nas calças... E lá se ia um uniforme para o lixo... Ou para os pobres talvez... Como a minha mãe gosta de lhes oferecer toda a roupa que não quero... Enfim, tudo por causa daquela ruiva desqualificada! E a outra? Aquela outra criada, inadmissível!

-Mãe, ainda não lhe dei conhecimento de tudo...

-Diga... -Respondeu ela num tom sério, talvez por eu não ter respondido à última fala dela.

-Aquela outra criada...

-A Jean! O que é que tem ela? Foi a Jean que me preparou a refeição matinal e estava tudo esplendidamente bem feito!

-Não mãe, a outra, Susanna eu acho...

-Hana, talvez?

-Sim, essa mesma! A mãe sabe como a boca dela é grande?

-Filho! Que linguagem! Francamente! Nem parece que foi criado no berço em que nasceu!

-Peço desculpa, mas não me lembrei de outras palavras para a descrever...

-Que mal te fez ela? É muito boa moça... Não tanto como a Blair que é calma que nem um anjo, mas asseguro profundamente que de entre as quatro empregadas que cá temos, a Hana é a que mais trabalha...

- Temos tantas empregadas mãe? E nenhuma decente! Inacreditável...

-Damien! O menino está com a língua solta hoje!

-Desculpe mãe, mas essa tal senhorita Hana insultou-me nas costas...

-Que fez ela? Como assim? Ninguém no seu perfeito juízo insulta o filho do patrão...

-Como a mãe vê, aconteceu este desastre nas minhas roupas e, veja então, que a outra criada, a tal Hana acusou-me de eu ter derramado café em mim, veja bem!

-Que horror! Irei falar com ela mais logo...

"Mais logo" disse ela... Eu sei quanto tempo dura essa expressão da minha mãe... Sempre ocupada com o trabalho de Design Fashion, nem é capaz de dar um pouco de atenção ao seu filho... Tentar o meu pai? Não, um antigo piloto de avião, que mais tarde se torna um agente de negócios, nunca para em terra a tempo suficiente de atender os pedidos do filho, quanto mais vê-lo crescer... Mas para quê? Não preciso deles, falta pouco para cuidar da minha própria vida...

Subi novamente a escadaria e fui na direcção do meu quarto. Fiquei à porta a observar aquela estranha criatura de pêlo de tons de laranja... Ela estava à frente do meu armário da roupa, com uma das minhas camisas brancas na mão. Muito sinceramente, porquê tanta demora? Talvez fosse roubar algo? Seria perfeito para a minha mãe abrir os olhos... Mas não... Aquelas mãos finas e magoadas de trabalhos domésticos, estavam a pegar na minha camisa e a levá-la até ao nariz... Para se assoar, talvez? Quem sabe, por vingança...

-Hey! -Gritei enquanto dei um passo. -Não é com atitudes do campo que me vai vencer...

A rapariga assustada, deixara cair a camisa no chão, e segurava o avental da farda com força, e de cabeça baixa nem respondia...

-Assoou-se na minha camisa?

-N-Não senhor...

-Então o que lhe fez?

-N-Nada...

-Eu vi que fez algo! E ainda por cima está a gaguejar... Explique-se!

-Eu... Não, não... É que...

-Responda!

Blair, mais assustada do que um ratinho, deixou-se cair no chão por ter as pernas demasiado enfraquecidas e respondeu baixinho por entre lágrimas:

-Cheirava bem...

Eu ri... Fui buscar uma outra camisa ao armário. Depois agarrei a outra que estava no chão e atirei-a à cara da rapariga.

-Pode ficar com ela, já que gosta tanto do cheiro e obviamente não deve conhecer mais ninguém que cheire bem e a lavado, ah ah ah!

Ela corou e agarrou na camisa, tirando-a da cara, baixou a cabeça e saiu apressadamente do meu quarto. Troquei de roupa e segui caminho para a escola para realizar o exame final.

Mal sabia eu que todas as noites ela dormia agarrada àquela camisa...

Continua...

13 comentários:

  1. Wow... A historia está tendo um desenvolvimento muito interessante.
    Estou gostando... Seguindo o blog para conferir os próximos capítulos kkk.
    Abraço.
    Espaço Otaku

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada :D
      Esperamos que goste e aprecie o resto da história ;)

      Eliminar
  2. Oin que história linda *O*
    Este rapazito está precisar de uma lição u.ú
    E quero ler mais, mais, mais, mais e mais... *-----------*
    Parabéns as Autoras \o/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade ah ah ah!
      Que bom que gostas-te xD
      Obrigada :)

      Eliminar
  3. Estou a gostar muito. Fiquei ansiosa pelo próximo capítulo. *-*

    ResponderEliminar
  4. Hahaha ainda bem que gostas-te Biabia >-<
    Brevemente vais ver ;)

    ResponderEliminar
  5. Nyannh... já estou imaginando um possível final pra essa história Haha! está muito boa, continuem, continuem! ansiosa para o capitulo dois sair ^^

    ResponderEliminar
  6. Adorei a história meninas, e nossa como caras como esse me dão uma raiva Grrr! mas mesmo assim estou ansiosa pelo próximo capítulo espero que saia logo ^w^

    ResponderEliminar
  7. Adorei este início de história e a escrita! Leitores, preparem-se para uma história que vai pôr os vossos corações a palpitarem furiosamente!!

    A Desenhista de Bellarian.

    ResponderEliminar